Creio que a vida é uma viagem. É estrada. Andar a pé. Ter uma bagagem cheia de pesos e plumas.
Tudo muito cansativo mas que acaba se tornando fácil quando encontramos pessoas que querem caminhar com a gente
Tem horas que é necessário deixar alguém pra trás. Difícil é nem poder olhar pra trás.''Nem poder'' não, escolher não olhar pra trás. Chuva, sol forte, vento e tombos... Enquanto caminhava conheci gente que gostou de andar comigo mas poucos do que saíram da rota deixaram saudades...Assim como há aqueles que fazem falta. Afinal, foram dias de passos iguais, de conversas, de descobertas, de bagagem com o mesmo peso etc. Descobri que enquanto estivemos juntos a dor nas pernas foi amenizada. Foi bom ter alguém pra me levantar, para me tirar do chão e sentar comigo no meio fio. Tive medo de olhar pro final da estrada... Vi algumas pessoas passar enquanto estávamos ali, no acostamento. Pessoas com sorriso largo, dentes lindos, exaltando uma certa felicidade e se orgulhando de todo caminho percorrido. Mas por dentro chorava o tempo, gritava o futuro e clamava por carona. Tinha hora que eu estava decidida a ficar ali sentada, pra sempre. Quem sabe ali não era meu ponto final?
Aos poucos minha bagagem ficou leve. O que não me servia mais, deixei na beira da estrada. Era hora de levantar e continuar andando mas como dar o primeiro passo? Senti dor nas pernas, cansaço, preguiça...Eu tive medo. Fiquei dias sentada. Ver gente indo, gente parada, correndo e andando na contra mão me ajudou a pensar em outras coisas. Mas o que mais me atraiu foi ver gente que eu escolhi deixar pra trás perder o fôlego para me alcançar. Elas correram e me alcançaram.
Eu tinha duas escolhas: Levantar rápido e continuar andando ou deixá-las ir, sem mim.
E agora?
Mesmo sem forças fechei os olhos e pedi para Deus me ajudar. Eu queria estar no caminho certo.
Foi então que quem estava ao meu lado me empurrou. Me fez levantar dizendo que seria melhor pra mim. Confusa, estiquei o braço, com o rosto pro lado, sem saber direito o que fazia...Quando me dei conta estava de pé. O primeiro passo foi dado, totalmente involuntário. Só deu tempo de arrancar um pedaço da mochila e jogar pra trás.
(...)
Hoje estou à quilômetros de distância a frente. Continuo conhecendo gente nova e mais gente me alcançou. Elas fazem o caminho ser mais fácil. Passo por asfalto, morro, estrada de chão e caminhos estreitos...Quando vejo os cruzamentos escolho o caminho em que Deus está. E por onde quer que eu passe o meio fio está lá. Ele me lembra que para dar o primeiro passo eu precisei ser empurrada.
As marcas do impulso que estavam tatuadas em minha bagagem, hoje estão no peito e no pensamento. Carrego comigo a certeza de que um dia se eu precisar descansar terei sempre uma boa companhia.
''Carregue no peito boas lembranças''. Aonde quer que você vá, faça a diferença.
A vida é uma estrada de boas companhias...
...que fazem a diferença.