O dia que eu quero lembrar.

Toda saudade possui uma imagem.
O triste é saber que aos poucos perdemos a capacidade de reconstruir os detalhes do que queremos lembrar.
O que foi vivido ontem ainda consegue ser narrado hoje com entusiasmos, detalhes e cores.
Já o que foi vivido há anos consegue se resumir em frases curtas e olhares confusos.
"O pouco que lembro desses momentos já não me dão certeza do que vivi."
Abençoado seja quem teve a brilhante ideia de materializar a saudade em papel.


Quero lembrar desse dia como o dia que Caio desbravou a praia sozinho.
O deixamos livre e ele apenas foi.
Correu, pulou, mergulhou, caiu, subiu, desceu, chorou, riu, gritou...
Me obriguei a observar cada gesto dele e tentar olhar com os olhos de quem olharia essas fotos lá no futuro.
E aí, ao invés de matar a saudade eu idealizei um bom momento.
Me vi sorrindo, sentada no sofá depois de ter recebido uma ligação dele me dizendo que me veria em breve.
O porta retrato me fez reviver a energia e curiosidade da primeira infância, já não lembro muito bem como foi a minha mas essas fotos fazem eu reviver como foi a dele.
Olhando as outras fotos, lembrei do que me propus a fazer no dia do registro.

Me permiti sentir o que ele sentiu.
A textura da areia.
As conchas que ele pisou.
A água salgada no olho.
A areia no pé e o lugar inteiro dentro de si.
Consegui até sentir o cheiro da maresia e o gosto da água de coco docinha, neutralizando o gosto de sal da agua do mar.
Lembrei que resolvi colocar tudo em preto e branco de propósito!
Eu queria treinar minha memória.
Forçar minha mente a lembrar e colorir esse dia para que eu não perca também os momentos que criei apenas com o olhar.
Farei isso a partir de hoje:
Tocar as fotografias, fechar os olhos e me deliciar com a saudade que carrego na memória.

Trabalhar com fotografia me capacita à viver histórias do outro mas me motiva à criar minha história com cada vez mais simplicidade.
O desejo é sempre de um momento bom.
Um coração grato.
Um olhar dedicado e qualquer instrumento de registro.
No futuro que vivi hoje, descobri que só sentimos falta do que já foi vivido, visto ou sentido.

Toda saudade possui uma imagem.
E essas daqui vão para a parede de nossa casa.

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